29/03/2012

EVANGELIZAI OS POVOS

Lucas 4:18

Que quer dizer “evangelizar”? É fácil responder, “pregar o Evangelho”! Porém, a palavra Evangelho quase perdeu a sua significação bíblica nestes dias de inúmeras religiões e filosofias. Na sinagoga de Nazaré, o Senhor Jesus, citando Isaías 61:1, mostrou o verdadeiro significado de "evangelizar": pregar as boas novas de Deus para o mundo.
Realmente, a palavra “evangelizar” é de origem puramente bíblica. Deus tinha uma coisa a declarar que os homens nunca poderiam descobrir sem uma revelação especial. Evangelizar é proclamar a boa nova e alegre mensagem da salvação eterna pelo poder de Deus, a qual Ele oferece gratuitamente a todo pecador que crê (Romano 1:16; 3:21-24; 6:23). Evangelizar é mostrar aos homens a entrada para um novo estado espiritual e moral que Deus possibilitou por meio da Sua obra sacrificial no Calvário (Romanos 5:18; 6:11; 8:16).
Notemos a distinção, no Evangelho, entre a cruz da expiação e a tragédia da crucificação. Esta, a tragédia, mostrou o homem em seu pior aspecto. Foi o crime dos séculos que revelou a origem diabólica de todo pecado humano (Atos 2:23). Ao mesmo tempo, a cruz da expiação foi o ato mais sublime do Deus eterno e perfeito (João 3:16; Romanos 5:8); foi o sacrifício divino que custou tanto ao Pai como ao Filho (2 Coríntios 5:19 ... Deus estava em Cristo); foi inteiramente voluntário; resolveu plenamente o problema do pecado humano (Isaías 56:6; 1 Pedro 2:24); serviu para desfazer as obras do diabo (1João 3:8), livrando o crente do seu poder. Crer no Senhor Jesus Cristo é aceitar para si, por um ato de vontade e de coração, a nova vida que Deus propõe; a cruz formará o motivo desta vida (Gálatas 2:20).
É importante que a nossa pregação apresente ao ouvinte não somente o seu estado em Cristo, ao crer nEle, como também as suas relações com Cristo na conduta prática da vida, relações estas que deviam determinar o seu procedimento em todos os aspectos da sua vida diária, em tudo, afinal, que ele planeja e faz. Tudo isso deve ser pregado como envolvido na redenção de Cristo (Romanos 12:1-2; Efésios 2:10).
Cada passo dessa vida divina no crente deve seguir o princípio de lealdade à luz recebida (João 8:12). Por falta de entenderem isto, muitos que entraram na igreja, realmente crentes em Cristo, fazem pouco progresso no seu conhecimento da vontade de Deus. Uma prontidão para agir, passo a passo, em obediência a essa luz, é só isto que o Senhor requer, e não a compreensão da Bíblia inteira num só dia! Não cabe, então, ao evangelista, exigir dos ouvintes a aceitação dum sistema completo de teologia e de ordem eclesiástica, pois haverá mais tarde um tempo próprio para a instrução de tais coisas. O trabalho essencial do evangelista é conduzir a alma do pecador a um contato vivo com Cristo, para que consiga um conhecimento pessoal e íntimo de Deus (João 14:7-10). Somente desta maneira é que se pode começar e continuar a experiência cristã (Marcos 4:26–28; Filipenses 3:13–14).
Uma ilusão comum entre obreiros evangélicos é que deveriam converter o povo em massa, conforme o exemplo de pregadores famosos que promovem grandes campanhas evangelísticas. Lamentam o fato de que só uma, duas ou três pessoas se tenham convertido depois de muitas pregações, orações, visitas e outros esforços evangelísticos; em seguida caem no desânimo e querem desistir da obra só por serem “poucos” os convertidos.
Mas uma das características notáveis do Evangelho, é que um só novo convertido pode ganhar muitos outros pela maravilha duma nova vida. Por exemplo, um moço de 17 anos entrou ”por acaso“ numa pequena igreja em Londres para abrigar-se duma tempestade de neve; havia poucas pessoas na reunião e o pregador estava ”substituindo” o pastor ausente. O moço foi convertido pela simples mensagem que ouviu, mas o pregador e a pequena congregação nada souberam, e decerto não poderiam saber que aquele moço desconhecido iria se tornar o maior pregador do século XIX – o grande Charles H. Spurgeon. Assim, a conversão de um poderá ser a conversão de mil; “vede como um pequeno fogo põe em brasas a grande floresta!“(Tiago 3:5).
Lembremo-nos, afinal, de que todos os homens não crerão no Evangelho para serem salvos. Mesmo debaixo do ministério do próprio Cristo, todos não se converteram. Muitos, vendo os milagres e atraídos pelos Seus ensinos, creram nEle, porém, ao tornar duro o Seu discurso, aqueles discípulos O abandonaram (João 6.66). O mesmo Evangelho que para alguns é cheiro de vida para a vida, para outros será cheiro de morte para a morte (2 Coríntios 2:16). A pregação fiel do Evangelho resultará na salvação de alguns e no endurecimento de outros; mesmo a ressurreição de Lázaro teve este resultado duplo (João 11:45-46). O evangelista, reconhecendo isto, fará o seu trabalho e deixará o resultado com Deus. O que ganha almas é sábio (Provérbio 11:30).

26/03/2012

AS BOAS NOVAS

William Tyndale (c. 1494-1536), um grande batalhador pela tradução e disponibilização das Escrituras Sagradas em meio às trevas medievais, esclareceu que a palavra grega “Evangelion” (que chamamos evangelho) significa notícias boas, joviais, de grande contentamento e júbilo, que alegram o coração do homem e o fazem cantar, dançar e pular de alegria.
Foi Tyndale quem primeiro traduziu a Bíblia diretamente dos textos hebraico e grego para o inglês popular do seu tempo, e usou a imprensa inventada por Guttenberg naqueles dias para divulgar sua tradução ao povo. Combatido ferozmente por autoridades civis impulsionadas pelas grandes instituições religiosas, foi eventualmente encarcerado no castelo de Vilvoorde em Bruxelas por mais de um ano, acusado e condenado à morte como herege, sendo então estrangulado e queimado em um poste à vista do público, acrescentando assim seu nome ao de milhares de mártires executados durante as décadas da chamada Reforma Protestante.
Estes homens deram a sua vida para levar o Evangelho a povos dominados pela falsa “Igreja”, que os proibia de aprender as boas novas da salvação gratuita obtida mediante a fé em Cristo, para obrigá-los a ficar submissos e sustentar, a duras penas, o luxo, ostentação, poder e glória da instituição papal, ou de outras que surgiram por conveniências políticas.
As vidas sacrificadas por esses pioneiros não foi em vão, pois outros batalhadores surgiram e o Evangelho foi anunciado, proclamado e ensinado pelos quatro continentes então conhecidos, enfrentando a poderosa oposição e influência dessa e outras “igrejas” apóstatas, particularmente nos países latinos.
Embora a oposição física ao Evangelho tenha quase terminado no ocidente, surgiram seitas cheias de heresias enganando a muitos e confundindo os incrédulos. As religiões falsas, espíritas, que vêm desde a antigüidade e o maometanismo (islamismo) fundado no século 7 depois de Cristo cresceram, e acrescentaram sua influência contrária ao Evangelho.
Dois séculos atrás o inimigo deu início a uma ideologia que se espalhou e está se tornando no maior obstáculo à fé cristã: o materialismo, subjacente no homem impiedoso, foi inflamado por teorias enunciadas por Darwin, e conduziu ao evolucionismo.
Declarando-se ser a verdadeira ciência, o evolucionismo nega a existência de Deus e procura de todas as formas interpretar a origem do universo como sendo algo fortuito, um efeito sem causa, uma perfeição saída do caos (conceitos nada científicos…). A sua oposição é vigorosa contra o Evangelho, atacando diretamente o conceito de uma realidade espiritual, um Deus criador, a criação especial do homem, o pecado, a redenção, a vida eterna, etc.
O mundo, inimigo de Cristo, recebe bem o evolucionismo, porque justifica a sua impiedade, e o faz sentir-se irresponsável pelos seus atos diante de um Ser supremo. O evolucionismo é ensinado nas escolas e nas universidades como se fosse verdade incontestável, provado, segundo dizem, pela evidência dos fósseis, das descobertas arqueológicas, etc., vistos pelo seu prisma. Os cientistas que não aceitam o evolucionismo, porque sabem e podem provar toda a sua fragilidade e inconsistência, são desprezados e impedidos de proclamar os seus protestos.
Em suma, através dos séculos o Evangelho tem enfrentado:
1. A oposição violenta do paganismo no início - a dedicação dos apóstolos e a dos seus discípulos fez com que o Evangelho fosse proclamado, com o poder do Espírito Santo, e se espalhasse pelo mundo conhecido.
2. A oposição violenta da falsa “igreja” durante a Idade Média - ela quase conseguiu emudecer o Evangelho, mas novamente o Espírito Santo impeliu homens corajosos a disseminá-lo com o risco das suas vidas, e a sua mensagem salvadora se espalhou pelo mundo.  
3. A apatia gerada pelo evolucionismo - talvez a maior barreira de todas, convencendo o mundo da inexistência de uma realidade espiritual, ou Deus. Em outro contexto, mas bastante semelhante, a Bíblia nos diz: “E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça” (2 Tessalonicenses 2:11,12). O mundo está voltando à situação lamentável de que lemos na passagem de Romanos 1: 22 a 32.
A barreira só pode ser derrubada com a convicção e a proclamação da verdade absoluta da Palavra de Deus, em sua integridade, por homens esclarecidos e cheios do Espírito Santo. Encontramos muitos hoje comprometendo a sua fé sincera em Cristo ao dizerem: “A Bíblia trata de coisas espirituais, e os relatos do Gênesis não têm base científica”, ou procurando acomodar a criação e o dilúvio com as teorias evolucionistas. Não existe compatibilidade: o evolucionismo é ateísta por excelência. Felizmente todas as descobertas científicas se coadunam perfeitamente com o relato bíblico (e não com o evolucionismo), havendo já missões cristãs que usam cientistas de renome para provar isso aos que se encontram em dúvida.
A alma do incrédulo está sedenta, o pecado continua a pesar em sua consciência, e o evolucionismo não lhe dá segurança, nem conforto, nem esperança. Ele precisa de “boas-novas de uma terra remota”. O Evangelho supre essas necessidades, é a água fresca para sua alma sedenta.
O Evangelho desde o início se propagou mediante três métodos, e ainda são os que usamos hoje:
1. Evangelizando: este verbo vem do grego “euaggelizo”, usado em Atos 8:4,35, 5:42 e vários outros lugares. Os crentes que foram dispersos, Filipe, e os que iam de casa em casa evangelizavam, ou sejam, contavam as alegres notícias do Evangelho aos outros, pessoalmente. Era algo excelente que queriam participar aos seus parentes, amigos, vizinhos e todos que quisessem ouvir. Estamos felizes com a nossa salvação? Contemos aos outros.
2. Proclamando: na Bíblia o verbo grego é “kerusso”, encontrado cinqüenta e nove vezes, inclusive em Marcos 16:15, Lucas 4:18,19, Romanos 10:14,15. Hoje em dia há muitos meios de fazer a proclamação: a congregações dentro e fora dos recintos, a todos os que estiverem ouvindo por rádio ou televisão, aos que buscarem nosso site na internet. Paulo declara: “Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:15).
3. Ensinando: grego “didasko”, dos três o mais usado na Bíblia, sendo encontrado 105 vezes. É instruir, participar conhecimento, logo quem instrui deve aprender primeiro. O Senhor Jesus era um grande e admirado ensinador, pois era autoridade na matéria mais do que ninguém (Mateus 5:2, 7:29, etc.). As Escrituras devem ser ensinadas “a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Timóteo 2:2). Os bispos de uma igreja devem ser aptos para ensinar (1 Timóteo 3:2).
Na situação em que nos encontramos agora, o mandamento do Senhor Jesus continua sendo: “ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus 28:19,20). Esta é a única maneira de penetrar a barreira construída pelo “príncipe deste mundo”. Paulo declarou que não se envergonhava do Evangelho, que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.
Não podemos deixar de mencionar que hoje, mais do que nunca, somos devedores a todos, sábios ou ignorantes, de levar-lhes as Boas-Novas do Evangelho assim como as recebemos, pois são como água fresca para as almas sedentas.
Muitas novas maneiras engenhosas e imaginativas de apresentar o Evangelho estão sendo experimentadas, às vezes parecendo que visam mais a diversão do que a conversão. Podemos nos sentir desconfortáveis ao vê-los, ou duvidar dos motivos. Mas Paulo nos ensina: “Mas que importa? Contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei."
Façamos a nossa parte, sejamos fiéis ao que fomos mandados, e Deus nos abençoará, não necessariamente com conversões, pois a semente pode não cair em terra fértil, mas nosso trabalho nunca é vão no Senhor (1 Coríntios 15:58).

23/03/2012

Cinco Gigantes que Davi não Conseguiu Matar

Davi é reconhecido como um dos maiores reis de toda a história judaica, mas como exemplo negativo de chefe de família. Teve vários desgostos pessoais com seus filhos, por não dedicar tempo e eles, nem ouvi-los em momentos difíceis de suas vidas, mas pelo menos uma virtude tem que ser destacada na vida dele: Ele ensinou a vencerem os gigantes
Queridos irmãos, temos que ensinar nossos semelhantes, nossa própria família que os gigantes retornam, e precisamos vencê-los também. Tenha certeza também que os gigantes sempre vão voltar. Golias morto, sempre tem seus adeptos, que querem a todo custo levar adiante suas idéias, projetos, conceitos e preconceitos contra o povo de Deus
Entenda também que sozinhos se tornará difícil vencê-lo, precisamos da ajuda e consolação dos irmãos, amigos, família, para vencermos juntos os gigantes. Quando se tem em mente um gigante, a visão é de alguém ou algo muito poderoso e muito forte e até com aparência invencível. Ao que tudo indica, o cristão já está acostumado a se deparar com esse tipo de coisa.
No decorrer de toda nossa vida, nos deparamos com gigantes que já parecem vitoriosos mesmo antes de agirem. Tamanha é a fúria com que atacam. São os problemas próprios do dia a dia, como dificuldades financeiras, desemprego, doenças, violência, e instabilidades. Por isso, os piores “gigantes” são os que residem dentro do próprio homem.
Existem ainda, e muitos perigosos os “gigantes espirituais” que procuram por todos os meios manter o homem escravizado no pecado e também desviar o crente dos caminhos do Senhor (Jo.1010; Lc.8.13). É claro que quando se fala em “gigantes” está se usando uma simbologia, que aliás, é muito própria para identificação dos problemas que se abatem sobre o homem e, em particular sobre os crentes em Jesus.
A primeira atitude que tomou foi confiar na força do Senhor (Sl.40.4).
Observe que Davi não parou no meio da batalha, e sim avançou para conquistar a sua vitória. É isso que o crente deve fazer também, não fugir da luta, nem demonstrar receio, mas partir para a batalha sabendo que o Senhor estará com ele nessa peleja.
Essa história todos nós conhecemos muito bem. No entanto, outros “gigantes” apareceram para atormentar a vida de Davi, e a esses ele não conseguiu vencer. Deus fez coisas fantásticas na vida de Davi, pois o Senhor se agradava profundamente daquele jovem rei, e até a chegar a dizer: “ Achei a Davi, meu servo, com o meu santo óleo o ungi” – Sl. 89.20.
Houve um dia que chegou a crise... e Davi fracassa!. E arrasta atrás de si, uma crise sem igual. Por causa de seu adultério e assassinato, começa o maior desastre de toda a sua vida, junto dele, sua família, e seu reino, sofrem terríveis conseqüências. A nação mergulha numa grave instabilidade governamental e seu reino quase vai a nocaute!. É interessante que os “gigantes” que foram mortos por Davi e seus guerreiros eram fortes e bem armados, porém visíveis. Era possível vê-los a longa distância, fortes, corajosos e bem armados, e como planejavam as suas estratégias de guerra, dessa maneira ninguém poderia ignorar a sua existência!.
Só que os “gigantes” que estão matando muitos crentes, nem sempre podem ser identificados de imediato, costumam se apresentar sem “aparência”, com sapatinho de lã, e com cara de “ingenuidade”, mas que caminham velozmente em nossa direção para nos abater, e nos destruir!.
Vejamos então os cinco “gigantes” que o rei Davi não conseguiu matar, pois eram na verdade, desejos e pecados que residiam no seu íntimo, e que predominaram e marcaram toda a trajetória da sua vida. Quando esses “gigantes” se instalam no coração de qualquer ser humano, é porque ele já não ouve mais a voz de Deus, e sim a voz do nosso pior adversário!. É porque deixou que predominasse o orgulho, o egoísmo, e a rebeldia, que são verdadeiras investidas do diabo para nos derrubar. Nesses casos a queda é simplesmente fatal!.

O PRIMEIRO GIGANTE : A TENTAÇÃO.

A tentação pode ser considerada como um teste difícil, uma provocação ou uma prova que se tem de transpor e sair vitorioso. No aspecto espiritual, é uma tentativa satânica a fim de levar o homem a cometer atos que desagradem a Deus, e em seguida aprisioná-lo nas malhas diabólicas. Foi assim que aconteceu com Adão e Eva, desde o princípio da vida humana. Infelizmente, eles se deixaram levar pelo engano (Gn.3.6).
Em 2 Sm. o capítulo 11 registra a tentação, o pecado e a queda trágica de Davi. Ao invés de ir adiante do seu exército na batalha, conforme fizera antes, Davi ficou em Jerusalém. Foi tomado de uma indolência que não demorou a levá-lo ao colapso moral e espiritual. Sua vida de conforto e luxo como rei desenvolveu nele a auto confiança e a imoderação. Foi nesse tempo, que ele deixou de ser homem segundo o coração de Deus ( I Sm. 13.14).
Davi, deste modo, caindo da graça (Gl.5.4), faz-nos uma séria advertência a todos os crentes: “Aquele , pois, que cuida estar de pé, olhe que não caia” (I Co. 10.12).
Esse relato do pecado de Davi demonstra até onde pode cair uma pessoa que se desvia de Deus e da orientação do Espírito Santo. Ao mandar eliminar Urias e tomar a sua esposa, Davi estava desprezando a Deus e a sua palavra (2 Sm. 12-9.10). Embora Davi tenha se arrependido dos seus pecados e recebido o perdão da parte de Deus, as conseqüências disso não foram eliminadas por Deus. Significa que mesmo restaurado o nosso relacionamento com Deus, não quer dizer que escaparemos do castigo temporal, nem que ficaremos isentos das conseqüências dos pecados específicos (vs. 10.11.14).
Deus não deixou passar, nem desculpou os pecados de Davi, sob o pretexto dele ser um mero ser humano; que os seus pecados eram simples fraquezas ou falhas humanas, ou que ele, como rei, teria o direito natural de recorrer à injustiça e à crueldade.

O SEGUNDO GIGANTE: O ADULTÉRIO

O capítulo 11 de 2 Samuel, começa com a narrativa dos problemas de Davi e revelam a falha, o lado humano desse homem essencialmente devoto. Davi é perturbado com a tentação quando vê Bate-Seba se banhando à tarde em seu próprio pátio. Alguns teólogos tem tentado caracterizar Bate-Seba como uma sedutora. Mas o texto sugere que ela não teve culpa no episódio do adultério do rei. Observe. “Davi como rei devia estar na guerra. Bate-Seba estava banhando-se depois que Davi fora se deitar, ela estava em seu próprio pátio, e somente só podia ser vista do terraço do palácio.
VIU ... A UMA MULHER (2Sm.11.2).
Davi tomou a iniciativa de procurar saber que era ela. Davi mandou chamá-la. Como uma mulher sozinha, não havia como rejeitar as ordens de um rei, que, no antigo Oriente tinha o poder de vida e morte. Agora grávida, depois do seu encontro com o rei, Davi começa a planejar uma saída. A gravidez de Bate-Seba revelaria seu adultério, já que seu marido tinha estado fora durante toda a primavera. Tendo em vista que Urias se recusou a ir para sua casa, a única maneira de Davi proteger seu nome era mandar matar Urias imediatamente.
Ele então poderia casar-se logo com Bate-Seba, e sua gravidez não causaria mais nenhuma dificuldade. Assim, Davi planejou a morte “acidental” de Urias, a fim de proteger-se a si mesmo. Para encobrir seu pecado de adultério, Davi matou um homem inocente, valente e digno de confiança. Os pecados que Davi estava cometendo eram: adultério, homicídio a sangue frio e o encobrimento hipócrita de tudo, de fato, um mal horrendo aos olhos de Deus. Davi se tornara réu da quebra do sexto, sétimo, oitavo, nono e décimo mandamentos (Ex. 20.13-17). Seus pecados eram ainda mais graves, porque ele era pastor do povo de Deus e responsável pela administração da justiça e da retidão em Israel (2Sm.8.15).
O pecado de Davi foi perdoado por Deus, visto que a pena de morte e a condenação eterna foram suspensas (I Jo.3.15). Deste modo, Davi foi restaurado à salvação e à comunhão com Deus. Apesar disso, sua reputação ficou maculada de modo permanente, e os efeitos do seu pecado continuaram pelo resto da sua vida e da história da sua família.
A experiência de Davi, uma vez perdoado e restaurado, é uma séria lição para quem pensa que o pecado é algo banal; algo que Deus simplesmente perdoa e esquece. Em 2 Sm.12.10 lemos assim: “Não se apartará a espada jamais da tua casa”. Deus julgou Davi e a sua família, sob a forma de violência, conflito e homicídio (isto é, a espada) pelo restante da sua vida, esse julgamento durou aproximadamente vinte e cinco anos!.

O TERCEIRO GIGANTE : A MALÍCIA.

A malícia é uma tendência para o mal que não se expressa à primeira vista. A malícia, inicialmente, fica encoberta e passa despercebida. A pessoa maliciosa maquina o mal em seu coração e suas ações são sutis, como se fossem uma teia para envolver a pessoa que se encontra em sua mira. È obra da carne (Gl. 5.19.20), assim sendo é contraditória à vontade de Deus.
A malícia representa uma tendência vigorosa para o mal, má índole, esperteza, astúcia, habilidade para enganar, artimanhas, falsidade, intenção maldosa, e fingimento.
A Bíblia registra casos de várias pessoas que, usando de má fé, malícia ou astúcia conseguiram concretizar seus desejos. Mas para todos os casos, o resultado foi a reprovação de Deus e conseqüentemente o Seu juízo. A fraqueza é própria da natureza humana. Citemos o caso do rei Davi que era um homem segundo o coração de Deus (I Sm. 13.13-14). Coisas grandes iniciam-se pequenas, e o pecado cauteriza a mente do homem!.
Dessa forma, Davi tentou legitimar a gravidez de Bate-Seba, concedendo ao marido uns dias de licença para que ele estivesse com ela na sua intimidade. Mas o fiel guerreiro preferiu não se furtar ao dever, pensando não ser correto ele descansar enquanto outros soldados arriscavam a vida pelo reino. Dessa forma, não foi para a sua residência. Preferiu ficar montando guarda no palácio.
Percebendo a dedicação de Urias e tentando não deixar transparecer sua malícia, Davi agiu como se estivesse enviando o guerreiro de volta ao campo de batalha. Desta vez, o próprio Urias levava ao general Joabe uma carta do rei que ordenava a execução de um plano para matar o seu fiel e valente guerreiro. Urias levava a sua própria e injusta condenação!.
Ao receber a carta, o general não fez perguntas nem mesmo comentários. Tratou de obedecer irrestritamente a ordem do rei, como era de costume. E inventando um esquema especial a fim de satisfazer o pedido do rei, colocou Urias e outros homens ao alcance dos arqueiros inimigos. O plano de Davi acabou dando certo.
Em I Jo. 3.12-15 lemos assim a palavra de Deus: ”Qualquer que aborrecer a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna”. Davi poderia ter restaurado a sua comunhão com o Senhor através do arrependimento sincero, de todo o coração, mas não teve forças para isso(Sl. 51).

O QUARTO GIGANTE : O ORGULHO.

O orgulho em algumas situações, pode ser considerado como um sentimento de dignidade, de auto confiança pessoal, brio, altivez, principalmente quando é vivido em um grau de satisfação e felicidade por algo conquistado. O orgulho é considerado pecaminoso pela Bíblia, ou melhor, pelo próprio Deus. Traduz o conceito elevado ou exagerado de si próprio; o amor próprio em demasia que leva à soberba, isto é, um orgulho exagerado; também considerado como arrogância, insolência e brutalidade.
Deus permitiu que Satanás tentasse Davi, após ter realizado muitos feitos e obtido grandes vitórias (2 Sm. 24.1). Davi caiu no laço do engano, pensou que fazendo o censo de toda a nação, Deus aprovaria a sua atitude. É bom observarmos que foi depois de grandes vitórias e realizações de Davi, que o diabo conseguiu essa brecha na vida do rei.
No capítulo 21.7 diz assim: “ E esse negócio também pareceu mal aos olhos de Deus, pelo que feriu a Israel”. É provável que o povo aprovasse o desejo pecaminoso de Davi, de recensear o povo. O orgulho, visto como erro, foi visto até pelo insensível Joabe que percebera que esse censo do povo era um grande pecado que envolveria todo o Israel na culpa. E aconteceu o inevitável: o povo ficou tomado de um espírito de orgulho nacional, e acabaram também participando do pecado de Davi, ficando todo o povo sujeito também ao castigo.
Ao numerar o povo, ele estava procurando exaltar a sua própria pessoa e o poderio militar da nação de Israel, e de depender unicamente desse poderio. Tal presunção inevitavelmente torna a pessoa autoconfiante, tomada de superioridade e vivendo sem fé e sem humildade. Davi deveria se lembrar de que todas as vitórias de Israel vieram pela mão do Senhor. De igual modo, o crente nunca deve se gloriar em sua própria grandeza no reino de Deus, mas nas suas próprias fraquezas.
Em I Cr. 21.11 O profeta Gade transmite uma ordem inusitada de Deus; Davi deveria escolher sua própria punição (vs.9-13). Davi escolhe uma praga e Deus envia uma peste a toda Israel, ocasionando a morte de cerca de setenta mil homens!. Há um fato interessante que não podemos deixar de destacar nesse episódio. Ainda em I Cr. 21.13 Davi diz ao profeta Gade: “Estou em grande angústia; caia eu, pois nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens”.
Davi estava emocionalmente comovido pelo sofrimento do seu povo, mas também tinha o desejo de agir em favor deles. Davi sabia que Deus poderia perdoá-lo por toda a sua transgressão. Agora, seu coração reconhece que Deus é quem merecia todos os privilégios das suas conquistas. Ele era limitado, Deus não!. Os resultados do orgulho serão sempre dramáticos (Pv.29.23).
O Senhor é um Deus que pode se compadecer, mesmo daqueles que merecem ser castigados. Por causa do seu amor, misericórdia e compaixão, Deus pode abreviar ou até mesmo cancelar um castigo que Ele ia aplicar.

O QUINTO GIGANTE: A TRAIÇÃO.

A traição é baseada na mentira. É um dos piores, senão o pior golpe que alguém pode receber de um amigo ou de uma pessoa que se considera ou que se ama. Traição pode ser entendido como deslealdade, desapontamento da expectativa de alguém: é desvendar os segredos de outrem, entregar um amigo aos seus inimigos; é também decepcionar um amigo além de ser contada como engano, infidelidade, perfídia e desonestidade.
A traição fere muito porque vem sempre de alguém em quem se deposita confiança. Parece que, em conseqüência desse fato, torna-se mais difícil perdoar uma traição do que outra qualquer afronta. Um fato que ilustra muito bem está registrado no Salmo 55. Davi orava pedindo ao Senhor socorro e fazia um relatório da situação em que se encontrava a cidade de Jerusalém.
Mesmo vivendo aquela situação de tortura, crimes e maldades sem limites, o que mais feria Davi e abalou o seu estado emocional, foi a traição de seu filho mais querido: Absalão (Sl.55.12-15). A traição foi deveras um golpe muito forte para Davi. Homem acostumado a enfrentar inimigos valentes e sempre sair vencedor, agora se depara com outra espécie bem diferente de inimigo. Seu próprio filho o traia!
No coração de Absalão nasceu um ódio, um rancor exagerado, que passa agora a fazer parte de suas manobras. Um filho rebelde, insubmisso, violento, que por causa de suas atitudes erradas, se distancia de seu amado pai. Ele já não tem mais como ficar na presença de seu pai. Matou o próprio irmão, fugiu, então passa dois anos distante de todos, e quando volta é para difamar seu pai. O capítulo 15 de 2 Sm, nos informa que Absalão começa a maquinar a derrubada do rei. Reunia seus homens e ficava na porta da cidade abordando as pessoas que vinham à Jerusalém buscar auxílio do rei para as suas necessidades. Dizia às pessoas: “se eu fosse o rei não deixaria você nessa situação”.
le foi destruindo a imagem que o pai construíra em 40 anos de monarquia. Seu propósito era semear inimizade por onde passava. Davi não conseguiu fazer as pazes com seu filho Absalão, de modo que, tempos depois seu filho acabou morrendo vergonhosamente pendurado num carvalho com o seu exército desbaratado.
Irmãos, sabemos que Davi como rei, obteve sucesso em tudo que fazia. A Bíblia está cheia de relatos vitoriosos da vida desse homem, que alcançou êxito como pastor de ovelhas, escudeiro do rei Saul, matou o gigante Golias, derrotou os filisteus, amalequitas, expandiu o território de Israel cerca de dez vezes mais, reorganizou o exército, contribuiu com a construção do Templo, enfim conseguiu feitos extraordinários em todo o Israel. Davi exigiu de si mesmo inúmeras realizações que o deixaram no topo das atenções. Todavia, nem sempre o sucesso é tudo na vida. Ao descuidar-se de outras áreas importantes da sua vida, acabou fracassando na sua área familiar.
Ficamos pensando em histórias não muito felizes como essa, acontecendo pelos quatro cantos do mundo. É fácil vermos isso na igreja atual, muita gente convertida, comprometendo-se a mudar, mas que na verdade, dificilmente mudam o seu caráter. Freqüentam igrejas poderosas, mas não abandonam a mentira, praticam o adultério, cobiçam cargos na igreja, fazem fofocas, escandalizam, enganam, e não oram quando são tentados.
Nessas áreas, parece que já não há mais o temor de Deus, e quando se perde o temor de Deus, passamos a ouvir a voz do diabo. A Bíblia mostra toda a vida de Davi, nada é empurrado para “debaixo do tapete”. Possamos então nos alertar sobre esses enganos, e refletirmos sobre os erros que tiveram os grandes homens de Deus, reis e profetas, e aprendermos que esses desacertos, de nada servem para o povo de Deus!.
Devemos sim, sermos verdadeiras ovelhas de Jesus. Em Efésios 5.1, Paulo escreveu muito bem dizendo: “Sede, pois imitadores de Deus, como filhos amados”. Significa que devemos rejeitar decisivamente todos os tipos de impurezas aqui na terra. É preciso que haja uma visível diferença entre o estilo de vida do cristão com os que são desse mundo. Afinal de contas, se não formos imitadores de Deus, imitaremos a quem?
Que o Senhor te abençoe poderosamente em todas as áreas da tua vida!. Em nome do Senhor Jesus.

19/03/2012

CINCO ADVERTÊNCIAS DE HEBREUS

Considerando a profundidade da matéria deste livro, o autor nos traz um sorriso ao fim do versículo 22, quando diz que espera que os irmãos suportem suas palavras de exortação, pois foram escritas em poucas palavras. Ele não se identifica, mas é quase certo que tenha sido o apóstolo Paulo.
A carta aos Hebreus foi escrita visando especialmente os crentes judeus, donde o seu nome. É importante sempre lembrar disso para compreender o seu conteúdo, pois muitas coisas apenas concernem aos judeus. Na falta desta compreensão surgem distorções e erros, mesmo até à heresia da teologia da substituição, que sustenta que a igreja tomou o lugar dos judeus nas promessas feitas aos seus patriarcas... Hebreus não deixa de ter ensinamentos proveitosos também para os crentes em geral pois, como os demais livros da Bíblia, é divinamente inspirado e proveitoso para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça (2 Timóteo 3:16).
Os crentes judeus dentro de Israel sofriam perseguição severa por causa da sua fé, e muitos eram tentados a voltar ao judaísmo, pensando que podiam abrir mão da sua salvação provisoriamente até que a situação se abrandasse, para depois aceitar o senhorio de Cristo novamente e com isto apagar o pecado de apostasia. Hebreus esclarece que não existia essa opção. Para os judeus “salvar” ou “salvação” pode ter por objeto a morte espiritual, mas também a morte física, e só assim se compreendem alguns trechos do livro.
Vamos a seguir extrair do livro cinco advertências, todas relacionadas com o julgamento e a morte física do Velho Testamento, mas que são também adaptáveis à vida espiritual do crente.
1. Contra o afastamento (capítulo 2:1-4): “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas...” – “por isso” é uma referência ao fato que o Senhor Jesus é superior aos anjos, logo é preciso atentar ao que Ele diz, e não nos afastarmos como se estivéssemos à deriva, perdendo a memória do que nos foi transmitido. A revelação através do Filho, que temos no Novo Testamento, traz obrigações aos que a recebem que são muito mais solenes do que a revelação feita através de anjos ou de simples homens como no Velho Testamento. A superioridade do Evangelho é por ter sido anunciado inicialmente pelo Senhor, depois confirmado pelos que o ouviram, e finalmente testificado por Deus junto com eles (v. 3a e 4).
Mesmo hoje muitos permitem esquecer-se do ensino de Cristo para ouvirem mensagens que se asseveram ser de anjos, ou de homens, como se pudessem ser ainda superiores. Quantos dedicam mais do seu tempo à leitura de livros “espirituais” que desenvolvem teorias, ensinamentos e conselhos alheios ao que aprendemos na Palavra de Deus, tendo já esquecido o que ela realmente ensina! O crente que se afasta estará sujeito à disciplina divina – não a perda da salvação espiritual, mas perda material, até mesmo da própria vida física, como acontecia no Velho Testamento aos que se desviavam dos caminhos de Deus ali revelados.
2. Contra a desobediência (3:7 a 4:13):- “a quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão aos que foram desobedientes?“ – Por causa da sua incredulidade, que gerou a desobediência, a grande maioria dos judeus que saíram da escravidão do Egito rebelou-se contra Moisés e Arão e não entrou na terra da promessa. Lemos em Números 14:20 que depois se arrependeram e que Deus perdoou o seu pecado, mas assim mesmo sofreram a penalidade da morte física no deserto: não a perda da sua salvação espiritual. “...Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação...” é o paralelo daquele episódio na vida do crente. Ele deve cuidar-se porque é responsável pela sua conduta, evitando que se encontre nele “um perverso coração de incredulidade, para se apartar do Deus vivo” como fez aquela geração, incluindo aqui a sugestão de corromper outros também. Ao contrário, os crentes devem exortar-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum se endureça pelo engano do pecado”.
Não se trata da retenção da salvação com base na perseverança na fé, mas da posse da salvação evidenciada pela continuação na fé. Um verdadeiro crente continua a crer mesmo que tenha tropeçado em pecado. O judeu convertido é exortado a “entrar naquele descanso”. Os rebeldes não entraram na terra da promessa, o que seria o seu “descanso” na terra (não é símbolo do céu, pois na terra da promessa ainda haveria muitas lutas, mas representa a vida de bênção do crente aqui na terra). O judeu convertido não teria a vida de bênção se voltasse ao judaísmo. Hoje, o crente convertido sofre a tentação da incredulidade, por exemplo com o assédio das teorias da evolução e do humanismo. Se lhes der ouvidos, será impelido à desobediência, e perderá o seu “descanso”, que são as bênçãos em sua vida aqui no mundo. Mas não perderá a sua salvação e a vida eterna.
3. Contra a imaturidade (5:11 – 6:20):- “vos tornastes tardios em ouvir, porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido”, o que vem a ser a imaturidade por causa da estagnação espiritual e incapacidade para aprender a “palavra da justiçae, “pela prática, ter as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”. As palavras “vos haveis feito tais” demonstra retrocesso ao invés do progresso que seria de se esperar no crente. O retrocesso voltava aos seis princípios rudimentares dos oráculos de Deus aqui mencionados: “o arrependimento de obras mortas” (o sistema levítico), “e de fé em Deus” (conversão ao senhorio de Cristo), “e o ensino sobre batismos” (as várias imersões e lavagens do sistema levítico) “e imposição de mãos” (a maneira de abençoar e dedicar ou se identificar com pessoas ou coisas no Velho Testamento), “e sobre ressurreição de mortos” (também uma doutrina do Velho Testamento achada em Jó 19:25, Isaías 26:19 e Daniel 12:2), “e juízo eterno” (o julgamento final, do “grande trono branco”). É o desejo de Deus que o crente progrida para a maturidade, embora não o obrigue a fazê-lo (6:3). Alguns daqueles judeus já teriam regredido ao ponto de não poderem avançar mais. Pensavam que tinham a opção de voltar atrás ao judaísmo e depois arrepender-se para voltar à fé cristã, assim apagando o pecado de apostasia. Mas conforme a sua posição diante de Deus, eles não tinham essa opção, pois era impossível. Se fossem verdadeiros crentes, eles teriam cinco privilégios espirituais: “foram iluminados” (regenerados e salvos), “e provaram o dom celestial” (tiveram experiência real do dom de Deus que era o Messias), “e se fizeram participantes do Espírito Santo” (receberam o Espírito Santo ao se converterem), “e provaram a boa palavra de Deus” (foram beneficiados com o conhecimento e ensino da Palavra), “e os poderes do mundo vindouro” (viram milagres apostólicos, amostra dos poderes que serão manifestados no reino do Messias).
O versículo 6:6 é crucial e uma interpretação errada tem sido usada por alguns como base para a doutrina da perda da salvação. O que o autor está dizendo é que, aos crentes que possuem esses cinco privilégios espirituais evidenciando que são verdadeiros crentes, é impossível cair e, portanto, de ser renovados para arrependimento. A razão da impossibilidade é que, para perderem a sua salvação e a receber novamente seria necessário que o Filho de Deus fosse crucificado de novo. Pela sua ação, os que caiam manifestavam sua rejeição de Jesus como Cristo, colocando-se junto aos outros judeus incrédulos da sua geração. O verdadeiro crente não tem a opção de voltar atrás e terá que prosseguir. Se for negligente, será disciplinado nesta vida ou dará contas do seu proceder no tribunal de Cristo. Não perderá a sua salvação.
4. Contra o pecado voluntário (10:19-31):- “Se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”, portanto devem ser seguidas as exortações dos versículos 22 a 25. O castigo pelo pecado voluntário é a expectativa terrível de juízo. Trata-se de uma condição de continuidade, não de um pecado isolado. No caso daqueles judeus, seria voltar ao judaísmo e continuar nele intencional e permanentemente. No Velho Testamento não havia sacrifícios possíveis para alguns pecados, como adultério, assassínio e blasfêmia, mas o culpados tinham que sofrer a pena de morte. Novamente, não se tratava de morte espiritual. Os crentes judeus daquele tempo que voltassem ao judaísmo, cometendo apostasia, teriam como castigo morte física (v. 28-29), morte na destruição de Jerusalém em 70 d.C. (v. 25 e 27) e perda das recompensas no tribunal de Cristo (v. 35-36).
Novamente, o crente de hoje que peca voluntária e continuadamente também está sujeito à disciplina nesta vida e à perda das recompensas no tribunal de Cristo. Mas não perde a sua salvação.
5. Contra a indiferença (12:25-29):- “Vede que não rejeiteis ao que fala”:- os crentes judeus deviam cuidar para não ser indiferentes à voz de Deus, como os israelitas tinham sido no Monte Sinai. Está no presente, portanto é a voz de Cristo que nos fala hoje pela Sua Palavra, como Deus falava ao povo na antiguidade. Os que estavam debaixo da lei de Moisés não escaparam da punição, portanto os crentes que não atentam à voz de Cristo hoje não podem esperar tratamento melhor. Sofrerão disciplina e perda de recompensa, mas não perderão a sua salvação eterna.
Enfim, repetimos, essas advertências têm em vista evitar sérios castigos neste mundo e prejuízo no porvir. Embora dirigidas aos cristãos judeus no início do cristianismo, têm aplicações para o crente no presente. Não se cogita na perda da sua salvação e da sua vida eterna, que são garantidos pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo em Sua Palavra para todo aquele que ouve a Sua Palavra e crê em Deus (João 5:24). A vida eterna não é passível de morte.

15/03/2012

O VOTO DE JEFTÉ

Como pode um homem que sacrificou a sua própria filha em holocausto por causa de um voto irrefletido figurar como um herói da fé em Hebreus 11:32?

O voto a que a pergunta se refere foi: "Jefté fez um voto ao SENHOR e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto." (Juízes 11: 30 e 31).
Vitorioso sobre os amonitas, Jefté voltou para sua casa e "eis que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela só, a única; não tinha outro filho nem filha. E aconteceu que, quando a viu, rasgou as suas vestes e disse: 'Ah! Filha minha, muito me abateste e és dentre os que me turbam! Porque eu abri a minha boca ao SENHOR e não tornarei atrás'" (Juízes 11:34-35). E assim fez: "E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu varão" (Juízes 11:39).
Teria ele realmente oferecido a sua filha em holocausto? Esta é uma pergunta que tem sido debatida através dos séculos e muitos comentaristas respeitados opinam que sim, o que dá origem a essa pergunta.
Essa interpretação decorre das palavras traduzidas como "e o oferecerei em holocausto", sem levar em conta a possibilidade de outra tradução, as circunstâncias das pessoas envolvidas, a lei de Moisés e todo o contexto desse episódio.
O original hebraico permite uma sutil modificação no sentido das palavras, de forma que a segunda parte não é necessariamente conseqüência direta da primeira, ou seja, no caso do SENHOR lhe dar a vitória, Jefté promete:
  • Qualquer coisa que primeiro saísse da sua casa ao seu encontro, seria do SENHOR (mesmo se fosse uma pessoa),
  • Ele a ofereceria em holocausto (se aparecesse um animal).
Essa interpretação é mais coerente, pois:
  • a lei de Moisés proíbe o homicídio (Êxodo 20:13),
  • também proíbe sacrifícios humanos (Levítico 18:21; 20:1-5, Deuteronômio 12:31)
  • Jefté era um homem provadamente temente a Deus, e evidentemente conhecedor da lei de Moisés; ele sabia que o SENHOR se aborreceria com um holocausto humano, embora fosse feito pelos cananeus aos seus ídolos.
Jefté (Quem Deus Liberta) havia sido marcado pelo seu nascimento infeliz, de uma prostituta. A lei de Moisés mandava "nenhum bastardo entrará na assembléia do SENHOR; nem ainda a sua décima geração entrará nela" (Deuteronômio 23:2). Seus irmãos por parte do pai, legítimos, o rejeitaram e ele havia sido banido dentre o seu povo. No entanto, era um homem valente e juntou ao redor de si um grupo de outros rejeitados pela sociedade nas cercanias de Tobe, ao norte de Amom, e com eles saqueava a região habitada pelos inimigos de Israel (como Davi também faria mais tarde - 1 Samuel 22:2).
Sofrendo por causa da sua origem, da qual era inocente, ele não desanimou, e Deus o usou mais tarde. Se tivermos de sofrer por culpa de outros, não fiquemos paralisados pela amargura, mas sigamos com coragem. Deus ainda pode nos usar, mesmo se nos sentirmos rejeitados por aqueles que nos cercam.
Por causa de preconceitos e costumes da sociedade, vizinhança ou mesmo igrejas, existem pessoas que se acham isoladas ou afastadas da comunhão dos seus irmãos. Seu potencial não é usado. Sabemos que todo o crente tem um lugar na família de Deus. Procuremos ajudar essas pessoas a serem aceitas em virtude do seu caráter e dos seus dons. Deus poderá usá-los.
Um dia, precisando de um homem valente para enfrentar os seus inimigos, os anciãos de Israel lembraram-se novamente de Jefté e foram buscá-lo no exílio onde se encontrava, propondo que ele chefiasse o seu exército. Estabelecidas as condições, ele voltou à sua terra de Gileade e recebeu sua nomeação pelo povo em uma cerimônia oficial, e depois solenemente declarou suas palavras diante do SENHOR em Mispa (Torre de Vigia). Vemos aqui que o seu Deus é claramente o SENHOR.
Após uma tentativa de resolver diplomaticamente a questão com os inimigos, os amonitas, o Espírito do SENHOR veio sobre Jefté, e ele foi até onde estavam o amonitas, quando então fez esse voto.
Teria este sido um voto irrefletido? Parece-me que Jefté foi dirigido pelo Espírito Santo ao fazê-lo e embora ele não soubesse qual seria o seu desfecho, o SENHOR sabia. Em seguida ao voto, o SENHOR deu a Jefté uma vitória absoluta sobre o inimigo, indicando que tinha a Sua aprovação.
Jefté não tinha outros filhos além dessa sua filha que lhe foi ao encontro festejando a vitória. Isso explica a sua grande tristeza ao perceber que, por causa do voto que fizera, tinha agora que dá-la ao SENHOR: ele jamais poderia dá-la em casamento, ela seria obrigada a permanecer virgem por toda a vida, e ele ficaria sem descendência porque não tinha outros filhos. Fica claro agora que o voto, segundo a vontade do SENHOR, evitou que surgisse uma descendência dele que estaria debaixo da maldição da lei.
Fazer um voto diante de Deus é coisa séria: "quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras." (Eclesiastes 5:4,5). Tem gente que, impulsionada por um apelo comovente, sem se dar tempo para refletir, promete mundos e fundos para alguma causa ou vai à frente prometendo dedicar-se em tempo integral à obra missionária, etc. Mais tarde, não consegue cumprir a sua promessa. Não devemos prometer mais do que podemos fazer.
Embora Jefté desejasse muito ter uma descendência, e sentisse muito por sua filha a quem amava, ele foi fiel ao seu voto feito diante do SENHOR. A sua filha também conformou-se, resignada, ao cumprimento do voto do seu pai, apenas obtendo a sua permissão para primeiro visitar suas amigas para lamentar o seu destino com elas por dois meses.
Era uma tragédia para ela, pois as jovens naquele tempo só se achavam realizadas quando casavam e tinham filhos, e as solteironas ou mulheres sem filhos eram desprezadas. Ela nunca poderia se tornar numa honrada mãe em Israel, e a sua vida seria dedicada ao SENHOR, humildemente servindo no tabernáculo. É um caso inédito na Bíblia, tanto que se tornou um costume em Israel as moças saírem todos os anos por quatro dias para celebrar a memória dessa jovem.
O SENHOR abençoou Jefté pela sua fidelidade, e deu-lhe mais uma vitória importante sobre os guerreiros revoltosos de Efraim. Apesar de ter sido desprezado e expulso pelo seu povo da sua terra por causa da sua origem, ao confiar no SENHOR Jefté provou ser um homem de fé, ao cumprir as suas promessas e o seu voto provou ser um homem de palavra, e ao agir sem hesitação embora com prudência provou ser um homem de ação e firmeza. Pelas suas grandes qualidades ele julgou a Israel seis anos, e foi incluído com outros heróis da fé em Hebreus 11:32.

11/03/2012

SAUL E A MÉDIUM

No caso de Saul e a pitonisa, foi realmente Samuel que apareceu ali ou foi uma tapeação de satanás?

A pergunta é feita tendo por base 1 Samuel 28:7-20. Embora o texto bíblico diga claramente que foi Samuel (versículos 12, 15, 16, 20) parece surpreendente à primeira vista que, tendo o SENHOR recusado a se comunicar com Saul através dos meios usuais (versículo 6), o espírito de Samuel subisse do paraíso para falar com ele quando procurou a médium de Endor, já que os necromantes e os que consultam os mortos são abominação ao SENHOR (Êxodo 22:18, Levítico 20:27, Deuteronômio 18:9-14).
Por causa disso, muitos comentaristas, a partir dos primeiros da igreja católica (Tertuliano e Jerônimo), reformadores protestantes (Lutero, Calvino), e outros mais recentes, mediante um raciocínio bem elaborado defendem a tese, com muitos argumentos, que não foi Samuel que subiu do paraíso, mas foi o próprio diabo ou um dos seus demônios que fingiu subir da terra para falar com Saul (e desta forma, tendo enganado Saul, enganar também a todos os que lêem sobre o fato para fazê-los pensar que realmente os médiuns têm poder para chamar os espíritos dos mortos).
Não existe outro caso como este na Bíblia, nem outra referência a esta passagem. Os judeus aparentemente nunca puseram em dúvida este texto bíblico, e seus comentaristas, baseados no hebraico, aceitam que foi realmente o espírito de Samuel. Que fôsse Samuel mesmo quem subiu não é somente o que a escritura diz, o que já é amplamente suficiente para a maioria de nós, mas com isso concordam eruditos da antiguidade como Justino Mártir, Origines e Agostinho, e os comentaristas que se batem pela ortodoxia bíblica são quase unânimes em declarar que o profeta morto realmente apareceu e anunciou a destruição de Saul e do seu exército.
Mas eles mantêem que Samuel não subiu em virtude das artes mágicas da médium, mas através de um milagre produzido pela onipotência de Deus. Não é o único caso em que Deus, pela sua soberana vontade e na sua infinita sabedoria, age de forma contrária ao nosso raciocínio. Como em outros casos, creio que ao tomarmos uma decisão, devemos aceitar a inspiração divina na redação original do texto bíblico. Se assim fizermos, não podemos deixar de concordar que foi realmente o espírito de Samuel.
Se admitirmos que Satanás teve a liberdade de inserir uma mentira no relato bíblico, abrimos uma brecha na credulidade que nos merecem todas as Escrituras Sagradas.
O SENHOR não atendeu diretamente às consultas feitas por Saul (Saul havia assassinado oitenta e cinco sacerdotes do SENHOR anteriormente), e as Escrituras nos dizem que a situação em que ele agora se encontrava era porque de maneira altiva e leviana ele havia desobedecido às instruções que o SENHOR lhe havia dado diretamente em outra ocasião (versículo 18).
Saul, desesperado e sem saber o que fazer, quiz aconselhar-se com o profeta Samuel, já morto. Foi então procurar a médium (gênero de atividade que ele próprio havia procurado eliminar do país em dias melhores), e jurou a ela, em nome do SENHOR, que não a castigaria. Com isso, desobedeceu a Deus duas vezes.
Contra todas as expectativas, Samuel subiu do paraíso no Sheol, onde se encontrava, para lhe falar: a Bíblia não nos diz a razão por que Deus o permitiu e só podemos fazer conjecturas a esse respeito. Por exemplo, seria talvez uma última oportunidade para Saul se arrepender, confessar seus pecados, e voltar-se para Deus. Pelo seu grito e exclamação de grande surpresa, deduzimos que a médium nada teve a ver com a vinda de Samuel. Houve uma interferência extraordinária e desconhecida sobre a sua rotina usual: ela percebeu que algo completamente fora do seu controle estava acontecendo, vendo o que ela pensou ser um “deus” subir da terra, pois ela estava acostumada apenas a usar arte mágica para enganar seus clientes. Em nenhum momento a Bíblia diz que o espírito de Samuel se “incorporou” na médium.
A vinda de Samuel não trouxe consolo para Saul, pois, além de repreendê-lo por chamá-lo, Samuel confirmou a justiça de Deus, anunciou a sua morte iminente e a dos seus filhos (que combatiam com ele) e a vitória dos filisteus sobre o seu exército.
Saul, já enfraquecido por não ter comido nada por cerca de vinte a quatro horas, foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel, caiu por terra e ali lhe faltaram as forças.
Hoje em dia o mundo procura grandes sensações e emoções na religião. Um dos caminhos é pelo espiritismo moderno, a antiga necromancia, cuja prática consiste, quando não em simples fraude, em chamar um demônio, que fala através da médium, como se fosse o espírito de um morto. Os demônios podem ter tido conhecimento daquela pessoa e dos seus hábitos, e assim o demônio pode enganar o cliente fazendo-o pensar que se trata realmente da pessoa morta.
Este trecho tem servido de argumento pelos espíritas para tentar dar alguma legitimidade bíblica às suas sessões. Eles dizem que a médium trouxe o espírito de Samuel para falar com Saul. Mas se assim fosse, seria o único caso na Bíblia, e as Escrituras Sagradas inegavelmente sempre condenam o espiritismo, que abrange adivinhação, prognóstico, agouro, feitiçaria, encantamento, magia e necromancia, que Deus abomina (Deuteronômio 18:10-12, Gálatas 5:19-21).
A narrativa bíblica do trecho em estudo não dá qualquer apoio ao espiritismo, pois a médium evidentemente nada tinha a ver com a subida de Samuel e foi apenas uma espectadora. Deus não violou suas próprias regras permitindo que a médium trouxesse o verdadeiro espírito de Samuel para a superfície, porque não foi isso o que aconteceu, embora ela depois procurasse reivindicar o feito para si.
Concluimos que Deus permitiu que Samuel falasse com Saul naquele recinto naquela ocasião, como permitiu que Moisés falasse com o Senhor Jesus no monte da transfiguração (Marcos 9:4). Não sabemos como o espírito de Moisés apareceu e foi identificado pelos três apóstolos, assim como não sabemos como o de Samuel foi identificado por Saul. Mas Saul, que conhecia muito bem Samuel, sabia que era ele: seria quase impossível convencê-lo se fosse apenas uma “voz” falando através da médium.
A médium, no entanto, aparentemente não conhecia Samuel e pensava que fosse um deus: se fosse obra da sua magia, e julgando que sua vida estava em jogo, ela teria procurado convencer Saul que era Samuel, coisa que não fez.
Podemos tirar algumas lições para nós desta ocorrência, e certamente esta é a principal razão porque é relatada na Bíblia, e dá origem a tanta controvérsia:
  1. Deus, mediante seu Espírito age com a Sua Palavra para convencer o homem do seu pecado, levando-o ao arrependimento. Mas não agirá para sempre (Gênesis 6:3). “Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz” (João 12:36). O incrédulo que resiste está em perigo de cometer o pecado contra o Espírito Santo, para o qual nunca terá perdão.
  2. A desobediência a Deus nunca vai nos tirar de um apuro ou nos livrar das consequências de nos termos afastado dEle.
  3. Ninguém, vivo ou morto, pode ajudar-nos, se Deus nos desampara. Esta é uma mensagem para os que confiam na intervenção dos vivos, sejam eles clérigos ou gurus, ou dos mortos, sejam “santos” (veja Jeremias 15:1) ou “espíritos”. Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem (1 Timóteo 2:5).
  4. Consultar os “espíritos” através de médiuns não somente é abominável diante de Deus, mas é enganoso e resulta em desgraça (Isaías 8:19-22).

08/03/2012

A FIRMEZA DE JÓ

“Receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal?”
Jó 2:10

Jó “era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal”. O profeta Ezequiel (contemporâneo de Daniel) colocou Jó com outros dois homens notáveis, Noé e Daniel, para destacar a sua justiça (Ezequiel 14:14 e 20). Tiago usou Jó como exemplo de homem bem-aventurado, gozando da misericórdia e compaixão de Deus porque teve paciência em suportar aflições (Ezequiel 5:11).
Jó foi talvez o homem que sofreu a maior variedade de catástrofes em um único dia do que qualquer outra pessoa que já viveu (Jó capítulo 1). O Senhor declarou que Jó não havia dado qualquer motivo para isso, ou seja, nem Jó nem seus filhos haviam feito algo que merecesse tal punição. Temos aí a confirmação que, embora nossas ações possam trazer boas ou más consequências para nós, o sofrimento não é necessariamente um castigo por algo mau que tenhamos feito. Como no caso de Jó, poderá ser uma prova de caráter.
O Senhor não executou as catástrofes, mas deu permissão e poder a Satanás para desencadeá-las sobre Jó a fim de provar que a sua piedade era genuína e não dependia das bênçãos que recebia de Deus. Jó passou nessa primeira prova de maneira brilhante, enunciando suas célebres palavras: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu partirei. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (v. 21).
Satanás não se deu por satisfeito, mas pediu, e recebeu, permissão e poder para mexer na saúde de Jó, até chegar ao limite da sua resistência, sem matá-lo. É a prova final do homem de Deus, para que demonstre que não ama tanto a sua vida neste mundo ao ponto de deixar a sua fé em Deus quando sua vida for ameaçada.
Lembremos as palavras do Senhor Jesus: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (João 12:25). Nosso comprometimento com o Senhor Jesus deve ser tal, a ponto de estarmos prontos a viver em pobreza ou enfermidade, ou mesmo a morrer, se com isso lhe pudermos glorificar. Viver para Ele ao invés de vivermos para nós próprios nos garante a vida eterna.
O Senhor sabia a extensão da fidelidade do Seu servo Jó melhor do que Satanás, e por isso permitiu que ele passasse pela prova final. Satanás fazia seu julgamento de Jó baseado em sua experiência da resistência da maioria das pessoas. Todos têm seus pontos fracos, e ao chegar aos extremos a maioria tende a fraquejar. Mas Deus nos prometeu: “Fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13). Deus nunca permitirá que sejamos tentados além do que podemos suportar e Ele pode nos suster, mesmo se nossa experiência for das mais trágicas. Deus sabe que nossa armadura aguentará.
Muitos cristãos tiveram que provar sua fé no passado, de uma maneira similar a Jó. Sob as mãos de seus perseguidores, dos quais a inquisição por séculos pela instituição católico-romana foi um exemplo proeminente, os santos foram roubados das suas possessões e de suas famílias e sujeitados a torturas diabólicas para tentar forçá-los a negar a sua fé. Ao serem finalmente assassinados, era frequentemente por meios cruéis como serem queimados vivos na estaca, contudo eles se mantiveram firmes em sua lealdade ao Senhor Jesus.
Às vezes somos inclinados a pensar que algum irmão está sendo disciplinado pelo Senhor (Hebreus 12:6-8) por causa de coisas más que fez (como pensavam os amigos de Jó), contudo pode não ser verdade. Talvez o Senhor esteja permitindo que ele seja provado até mesmo de uma forma que não serviria para nós, porque sabe que não poderíamos aguentar como aquele irmão.
Com carta branca para fazer com a saúde do íntegro e reto Jó o que quisesse, Satanás o submeteu ao teste supremo: golpeou Jó com úlceras malignas, desde a planta do pé até o alto da cabeça. Tentado pela sua mulher a blasfemar contra Deus, Jó a repreendeu dizendo que falava como uma doida, e arguiu: “receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal?”.
Seria difícil encontrar explicação para os males terríveis que sobrevieram a Jó, de um ponto de vista humano. Se não era punição por seus pecados, não se pode imaginar qualquer utilidade. Parece ter sido um sofrimento cruel e injusto. Os seus amigos entenderam que só podia ser punição por algum pecado sério que Jó não queria revelar a eles. Jó estava certo que não tinha cometido qualquer pecado assim e não tinha ideia da razão. Mas sua fé na justiça de Deus continuou inabalada.
Deus tinha o motivo, que nos é revelado no início, mas não o revelou a Jó (poderia ter prejudicado a prova). Deus pode nos salvar do sofrimento, mas pode igualmente permitir que nos venha sofrimento por razões que desconhecemos no presente. É a estratégia de Satanás para nos fazer duvidar de Deus exatamente naquele momento. Se sempre soubéssemos o motivo do sofrimento, não haveria crescimento da nossa fé.
A fé em Deus não garante a prosperidade pessoal, e a falta de fé não garante problemas nesta vida. Há hoje pregadores do “evangelho da prosperidade” que pedem ao povo para crer em Deus simplesmente para ficarem ricos. Como estão errados!
Muitos crentes pensam que crer em Deus os protege dos males, e por isso quando sofrem uma calamidade, questionam a bondade e a justiça de Deus. Mas a mensagem de Jó é que não devemos perder nossa fé em Deus quando Ele permite que tenhamos más experiências.
O que estava acontecendo com Jó tinha uma finalidade elevada e digna. Havia uma razão boa e suficiente nos propósitos eternos de Deus. Agora que todos os fatos estão consumados e podemos considerar todas as suas facetas, descobrimos que Deus teve uma finalidade nobre. Foi bom para Jó, mesmo que terrível enquanto durou, e uma lição extraordinária para os leitores da Bíblia durante os milênios que se seguiram, mesmo até nossos dias.
O dia veio quando Jó percebeu que algo bom resultava da sua experiência, embora no início não compreendesse nada, como vemos pelos seus discursos. Descobriu que não era somente para o seu próprio bem, pois recebeu como recompensa sete vezes mais do que possuía antes, mas também era para a glória de Deus.
Mais importante ainda: somos informados logo no início do singular livro de Jó, que, no âmbito celestial, Satanás tinha preparado uma calúnia séria sobre o caráter de Deus, ao sugerir que não era digno de ser amado, e que tinha que pagar Jó com boa saúde, família e riquezas para que fosse amado e servido por ele. Todos os filhos de Deus devem ter tremido ao ouvir tal coisa. Mas Jó provou que Deus era digno de honra e glória mesmo depois que tudo, inclusive a saúde, lhe foi tirado.
Que a firmeza de Jó nos sirva de exemplo quando passarmos pelas provações, pois elas nos dão a oportunidade de evidenciar que a nossa fé não depende da nossa saúde ou prosperidade, e que o nosso Deus e Senhor é digno da nossa lealdade, honra e louvor simplesmente por ser Quem Ele é.

02/03/2012

PEDI E DAR-SE-VOS-Á

(Mateus 7:7a)
Este é um dos muitos mandamentos que o Senhor Jesus deu aos Seus discípulos no chamado Sermão do Monte, introduzindo o Seu reino. É notável que, embora uma grande multidão O seguisse naquela ocasião, Ele primeiro subiu uma montanha onde se assentou e dele se aproximaram os seus discípulos. O sermão foi dirigido aos discípulos, que já Lhe pertenciam, e não às multidões.
O Sermão do Monte contém normas de comportamento que serão impostas e praticadas quando Cristo voltar para reinar em perfeita justiça no mundo. Mas todo aquele que O recebe como seu Senhor, agora, precisa conhecê-las para colocá-las já em prática em submissão a Ele. Para isso o crente conta com o poder do Espírito Santo, sem o qual ninguém pode alcançar estes altos padrões.
É impossível conseguir impor essas normas sobre os rebeldes incrédulos. A lei de Moisés fora dada ao povo de Israel para educá-lo nos padrões da justiça de Deus, e, convicto do seu pecado, conduzi-lo ao Filho de Deus que viria trazer o conhecimento da Sua perfeita justiça, que vem pela fé (Gálatas 3:24). O Sermão do Monte evidencia o mais alto padrão de justiça requerido dos cidadãos do Reino de Deus, e só o Evangelho da graça de Deus pode trazer a justificação necessária para que alguém se habilite a obedecer ao Messias.
Entre os assuntos abrangidos pelo Sermão do Monte está a oração pessoal (Mateus 6:5-14). Esta deve ser feita com a mesma discrição de um filho que fala em particular com o seu Pai, ou seja, em nosso quarto, com a porta fechada, para estarmos a sós com Deus sem exibirmos nossa piedade aos outros. Deus pode nos ver, e ouvir, e Ele nos recompensará pela nossa atitude.
Não usemos repetições constantes como para exigir a Sua atenção. Nosso Pai sabe o que nos é necessário antes de o pedirmos. Somos, no entanto, instruídos a orar porque assim reconhecemos a nossa necessidade e a nossa dependência do suprimento que vem do Pai. Essa é a base da nossa comunicação com o Pai, mas também Ele nos dá coisas em resposta à nossa oração que Ele de outra forma não nos daria (Tiago 4:2).
Pacientemente o Senhor Jesus nos diz como devemos orar, dando-nos um modelo básico para ser seguido em nossas orações, nunca para ser pronunciado como uma fórmula mágica ou repetido vez após vez como castigo ou penitência. Também não foi dado para que se memorizem as palavras e depois sejam repetidas em um ritual, pois com isto as frases se tornam apenas formais e sem aplicação pessoal. Uma vã repetição.
Neste modelo, bem conhecido por todos nós, começando com as palavras: "Pai nosso, que estás nos céus", seguindo-se a adoração e louvor, e a expressão do nosso desejo pela vinda do reino de Deus na terra, passamos a orar pelas nossas próprias necessidades. O pedido "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" manifesta o nosso reconhecimento que dependemos de Deus para as nossas necessidades, tanto físicas como espirituais.
O ensino que começa por "pedi e dar-se-vos-á" complementa este pedido. O Senhor Jesus está ensinando que devemos ativamente pedir, buscar e bater à porta de nosso Pai, que está nos céus, a fim de obter o que precisamos. Estas são as ações de quem sabe do que precisa, sabe quem o pode conceder, e se sente livre para "incomodá-lo" com o seu pedido. Vejamos cada um destes itens:
  • Sabe do que precisa: existem necessidades imediatas, práticas e materiais, incluindo curas de enfermidades, do tipo do "pão nosso de cada dia": destas não costumamos esquecer. Mas convém também avaliarmos nossas necessidades em outras áreas, como deficiências que podemos perceber em nosso próprio caráter, as tentações que sentimos e das quais queremos nos livrar, o poder do Maligno que nos cerca, as oportunidades de servirmos ao Senhor proclamando e anunciando o Evangelho sem temor, a sabedoria e a revelação da vontade Deus em nossas vidas, o controle da nossa língua, a nossa completa santificação, as condições permitidas pelas autoridades para que tenhamos uma vida quieta e sossegada em toda a piedade e honestidade, e outras do gênero. Pensemos também nos outros, e façamos intercessão por eles: nossos irmãos na fé, os missionários e evangelistas, os novos convertidos, os nossos inimigos, as autoridades.
  • Sabe quem o pode conceder: invariavelmente é Deus, o Pai. Este é o ensino uniforme em toda a Bíblia. Existe apenas um versículo, João 14:14, em que foi inserido o pronome "me" em algumas versões, dando a entender que se deve pedir ao Senhor Jesus. Isto se deve ao fato que essas versões são traduções feitas da Vulgata Siríaca Peshita Aleph B33 onde consta esse pronome, em contradição com os demais textos bíblicos. O Senhor Jesus mesmo ensinou aos Seus discípulos que "naquele dia (depois da Sua ascensão) nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, Ele vo-lo há de dar. Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra." (João 16:23,24). Deus tudo opera através do Filho, "para que o Pai seja glorificado no Filho". Mas se pedirmos ao Filho, em Seu próprio nome (um contra-senso) onde fica o Pai, para receber a glória se Ele nos der o que pedimos?
  • Sente-se livre para "incomodá-lo" com o seu pedido: essa liberdade nos é garantida em Sua Palavra (p.ex. Filipenses 4:6) e, não só temos a liberdade para vir à Sua presença com nossos pedidos, mas somos encorajados e incentivados a fazê-lo (1 Timóteo 2:1). Lembremos que, segundo o modelo do "Pai Nosso", devemos pedir perdão pelos nossos pecados (infrações e omissões da perfeição requerida da nossa posição de filhos de Deus), tendo também já perdoado aos que nos prejudicaram de alguma forma, tornando-se assim nossos devedores. Convém sempre lembrar que a dívida que Deus já nos perdoou, que custou o precioso sangue de Cristo, é sempre maior do que qualquer uma que alguém tenha para conosco. É difícil mantermos nossa comunhão com Deus se não perdoarmos aqueles que nos ofendem, obedecendo ao Seu mandamento.
"Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?" (Mateus 7:11). Quando pedimos, nosso Pai nos dará bens: sabendo melhor do que nós aquilo que precisamos, a Sua resposta poderá ser surpreendente, talvez bem diferente daquilo que estamos esperando. Mas será para nosso bem.
Concluindo, lembremos as sábias palavras que um autor desconhecido nos deixou:

Pedi força e vigor
e Deus me mandou dificuldades para me fazer forte.

Pedi sabedoria
e Deus me deu problemas para resolver.

Pedi prosperidade
e Deus me deu energia e cérebro para trabalhar.

Pedi coragem
e Deus me mandou situações perigosas para superar.

Pedi amor
e Deus me mandou pessoas com problemas para eu ajudar.

Pedi favores
e Deus me deu oportunidades.

Não recebi nada do que queria.
Recebi tudo o que precisava.
A minha oração foi atendida.

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