Amultidão curiosa que tinha ouvido a
parábola do semeador não a entendeu. Mas, então, o que esperávamos? Nem os
discípulos do Senhor entenderam. "Então, lhes perguntou: Não entendeis
esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?" (Marcos
4:13).
Jesus parece ter começado com a história
do semeador porque ela abordava um conceito tão fundamental do reino do céu que
a incapacidade de entendê-la prediria incapacidade de entender qualquer uma. A
salvação dos discípulos era que, ainda que verdadeiramente não percebessem seu
ponto, eles queriam saber, e ficaram para perguntar mais sobre o que ele queria
dizer e para ouvir a paciente explanação de Jesus.
A parábola do semeador contém três
elementos: o semeador, a semente, e os solos. O semeador e a semente são
constantes. O semeador é habilidoso e espalha a semente por igual. A semente é,
indiscutivelmente, boa. Mas o trabalho hábil do semeador e a capacidade de
germinação da semente dependem para seu sucesso da natureza do solo, e aqui é
focalizada a parábola.
Quem é o semeador? Jesus não diz. Na
parábola do trigo e do joio, Jesus diz que o semeador da boa semente é o
"Filho do Homem" (Mateus 13:37), mas a preocupação naquela
parábola são as origens contrastantes dos dois tipos de sementes. Aqui a
identidade do semeador não é tão crítica. Quem quer que ele possa representar é
essencialmente uma função do propósito da parábola. Se o seu intento foi
ilustrar a resposta variável dos ouvintes à pregação pessoal de Jesus e
forçá-los a um exame sério de si mesmos, então muito certamente o Senhor é o
semeador. A aplicação, por Jesus, das palavras de Isaías a sua audiência,
"Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os
ouvidos, e fecharam os olhos" (Mateus 13:14-15) parece sugerir essa
interpretação.
Mas se, por outro lado, o propósito desta
parábola foi também fortalecer os corações incertos de seus discípulos,
esperando, como estavam, o reino para levar cada alma diante dele, então
certamente eles e aqueles que semeariam o mundo com o evangelho depois deles
teriam que ser parte deste complexo plantador.
O significado da semente é claramente
demarcado para nós. "Este é o sentido da parábola: A semente é a palavra
de Deus" (Lucas 8:11). Ainda que não seja a mensagem primária desta
parábola, o fato que a palavra de Deus é o poder que constrói o reino de Deus
precisa de ênfase.
Não há nenhuma mágica aqui, nenhuma
energia esotérica mistificadora. Até as palavras dos homens têm poder. Elas
comunicam sentimentos e idéias, criam culturas inteiras, levam homens à paz ou à
guerra, mudam o curso da história, produzem grande mal ou grande bem. Por que
nos surpreenderíamos, então, que a palavra de Deus tenha poder
inimaginável?
Os mundos foram criados e são mantidos
pela palavra de Deus (Hebreus 11:3; 1:3), e o sopro divino que está em suas
palavras (Salmo 33:6) é o sopro que nos deu a vida (Gênesis 2:7). A palavra do
Todo Poderoso responde aos nossos espíritos como a luz responde aos nossos
olhos. Sua poderosa verdade viva penetra em nossos corações e põe a nu nossos
mais íntimos pensamentos (Hebreus 4:12). É a palavra do evangelho que nos salva
(Romanos 1:18; 1 Coríntios 1:21), e a "palavra da sua graça" que
nos edifica e garante nossa herança entre o povo de Deus (Atos
20:23).
Esta parábola está nos dizendo, em
linguagem simples, que a própria palavra de Deus é a semente germinante da vida
(Filipenses 2:16), e não a palavra mais algumas misteriosas obras do
Espírito Santo. É por esta própria palavra viva, que transmite energia, que o
Espírito Santo não somente nos leva ao renascimento espiritual (Efésios 1:13; 1
Pedro 1:23-25), mas nos transforma na imagem do Filho de Deus. E tudo isto é
possível porque em suas palavras Deus nos abriu seu coração e derramou as
profundezas de sua verdade e graça (1 Coríntios 2:10-13). No evangelho, ele nos
fez olhar na face de nosso crucificado Salvador (2 Coríntios 3:18). E isso tem
poder!
É, portanto, sacrilégio homens e mulheres
falarem do evangelho como "mera palavra" e rirem da idéia que o evangelho por si
só é capaz de produzir uma nova e inconquistável vida espiritual. Não é prudente
falar tão levianamente de palavras que saem da boca de Deus ou insultar o céu
tentando fortificar esta palavra "inadequada" com nossas vãs filosofias
(Colossenses 2:8-10; Provérbios 30:5-6). Até Satanás sabe onde está o
poder. "A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir,
o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo sejam
salvos" (Lucas 8:12).
Mas não faz Deus mais do que apenas falar
conosco? Sim, ele está certamente ativo em responder nossas orações (1 João
5:14:15), e providencialmente nos guiando através das provações e tribulações
que limpam, fortalecem e purificam nossa fé (Romanos 8:28). Mas, em fim, é sua
palavra que tem poder, e é para sua palavra que todo seu providente trabalho
precisa nos trazer, em obediência compreensiva. É através dessa palavra que
chegamos a conhecer Deus e seu Filho. E essa é vida eterna (João 17:3). A
semente do reino é a palavra de Deus.
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